Ecovouchers: o que são e como podem contribuir para um futuro mais sustentável
A maioria das pessoas é sensível aos temas da sustentabilidade e à necessidade de terem um consumo e um modo de vida que respeite o futuro da nossa vida neste planeta. No entanto, na prática nem sempre é fácil ou possível fazer as melhores escolhas quando vamos ao supermercado ou compramos um eletrodoméstico. Os ecovouchers podem ser uma ferramenta-chave nesta encruzilhada.
Nem sempre compra ‘verde’ quem quer, mas quem pode
Se já comparou os preços dos produtos biológicos ou com etiqueta ‘verde’ com os que não são, muitas vezes terá chegado à conclusão de que fazer um consumo ecológico sai mais caro, pelo menos a curto prazo. Daí que, se as nossas contas estiverem mais apertadas, muitos acabam por optar por comprar o mais barato. Isso mesmo foi confirmado num inquérito da Kantar Worldpanel, de 2022, que mostra que os consumidores são sensíveis à importância da sustentabilidade, mas só quando têm meios financeiros suficientes é que agem de acordo com isso.
Em situações de subida de preços, como a que se vive presentemente devido à inflação e às taxas de juro, este problema é ainda mais agudo.
Como podem os consumidores beneficiar destes produtos e contribuir para a sustentabilidade? E, por outro lado, como podem os governos tornar um modo de vida mais sustentável acessível aos seus cidadãos, independentemente da capacidade financeira de cada um?
Hoje em dia, os estados têm vários compromissos de sustentabilidade assumidos ao nível internacional. O Pacto Ecológico Europeu definiu o objetivo ambicioso de tornar a Europa o primeiro continente com um impacto neutro no clima até 2050. E a experiência mostra que as medidas que aumentam os impostos sobre produtos poluentes ou com impacto negativo geralmente são impopulares.
O exemplo da Bélgica
A Bélgica tem sido vista com um caso de estudo para lidar com este impasse. Em 2009, foi lançado neste país o ecovoucher – um vale social atribuído aos trabalhadores pelas empresas e que se destina à compra de produtos e serviços considerados ecológicos. Falamos por exemplo de eletrodomésticos com alta eficiência energética, bilhetes para transportes públicos, bicicletas, plantas e sementes, produtos em segunda mão, recarregamento de baterias, pagamento de serviços de reparação, etc.
O sistema serve três objetivos importantes e cada dia mais relevantes: aumentar o poder de compra dos trabalhadores; encorajar o consumo sustentável; fomentar a economia local e circular.
Quem ganha com o ecovoucher?
O ecovoucher, tal como outros vales sociais, tem benefícios para todas as partes envolvidas.
No caso dos trabalhadores, aumenta o poder de compra. Quase dois milhões de trabalhadores belgas recebem este benefício, que tem um valor máximo de 250 euros anuais e está isento de impostos e taxas sociais. Além deste acréscimo no seu rendimento, os trabalhadores têm benefícios indiretos como a poupança de energia (pelo uso de eletrodomésticos mais eficientes, por exemplo).
Para as empresas, a isenção fiscal sobre o valor dos vales permite também poupanças no momento de pagar os impostos, além de ser uma parte relevante das políticas de responsabilidade social.
Para os comerciantes que se associam à rede, os ecovouchers são uma oportunidade de vender mais e conseguir mais receita. Estes vales, como outros benefícios pagos em título, não podem ser convertidos em dinheiro, e são necessariamente gastos nos negócios locais que vendem os produtos e serviços oficialmente classificados como ‘verdes’.
Para o Estado, as vantagens são várias: havendo mais consumo, há mais receita em IVA. Além disso, sem ter de fazer qualquer investimento financeiro, o Estado consegue garantir que avança no sentido das metas definidas nos acordos internacionais.
Há, assim, benefícios gerais para a economia (mais receita para os comerciantes, criação de postos de trabalho, mais receita em IVA para o estado). E, não perdendo de vista o objetivo principal, para o futuro da nossa vida no planeta: calcula-se que graças aos ecovouchers, na Bélgica, tenha sido possível evitar a emissão de 230 mil toneladas de CO2 (dados de 2018, estudo da CO2Logic para a VIA ).
Todas estas características jogam a favor dos ecovouchers: eficácia a promover o consumo responsável (para todos, independentemente do seu rendimento); popularidade, por ser um incentivo positivo e que aumenta o poder de compra; simplicidade de funcionamento; e custo zero de implementação para o Estado (e logo, para os contribuintes).
